Como o mercado lucra com a baixa autoestima feminina e mantém esse ciclo?
- Mariana Mejan
- 18 de jun.
- 3 min de leitura
Vivemos em uma sociedade onde o mercado se alimenta — e lucra — da insegurança feminina. A indústria da beleza, da moda, dos procedimentos estéticos, do emagrecimento, do rejuvenescimento e até da autoajuda estão diretamente conectadas com a construção da baixa autoestima feminina. E isso não é uma coincidência. É um projeto.
Esse projeto se sustenta na junção de dois sistemas opressores: o patriarcado, que mantém a mulher em posição de subordinação, e o capitalismo, que transforma qualquer dor em mercadoria. Juntos, eles criam e mantêm uma lógica que lucra com a insatisfação, o medo de envelhecer, o desconforto com o próprio corpo e a eterna busca por aprovação.

O mercado da insegurança: dados que escancaram o problema
A indústria global da beleza movimenta mais de 625 bilhões de dólares por ano (dados de 2024) e cresce impulsionada, principalmente, pelo consumo feminino.
O Brasil é o segundo país no mundo em realização de procedimentos estéticos, ficando atrás apenas dos Estados Unidos.
Dados da Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica apontam que mais de 85% dos procedimentos estéticos são feitos por mulheres, muitas vezes movidas pela pressão de se manterem jovens, magras e dentro de padrões inalcançáveis.
O mercado de emagrecimento no Brasil movimenta aproximadamente R$ 100 bilhões por ano, enquanto a indústria de cosméticos cresce na média de 7% ao ano.
Esses números não falam só de consumo. Eles falam de uma ferida aberta. Falam de mulheres ensinadas, desde muito novas, que nunca são suficientes — seja no corpo, na aparência, na produtividade ou no comportamento.
Capitalismo, patriarcado e a construção da baixa autoestima feminina
O patriarcado diz que o valor da mulher está no seu corpo, na sua beleza e na sua capacidade de agradar. O capitalismo transforma essa ideia em lucro. E assim, se constrói uma máquina que explora a dor feminina.
Desde muito cedo, as mulheres são expostas a padrões irreais de beleza, magreza, juventude e comportamento. Esses padrões são alimentados por mídias, redes sociais, publicidade e, hoje, pelos algoritmos que reforçam imagens de corpos perfeitos, peles lisas, rostos sem marcas e vidas aparentemente impecáveis.
O resultado? Um ciclo constante de insatisfação. Porque não é possível atingir o inatingível. E é justamente isso que mantém o sistema funcionando: uma mulher que se sente inadequada consome mais — procedimentos, roupas, maquiagens, dietas, produtos, cursos de desenvolvimento pessoal… Tudo prometendo uma solução para o desconforto que o próprio sistema criou.
O impacto nas mulheres de todas as idades
Essa pressão não escolhe faixa etária. Ela começa na infância, quando meninas já são ensinadas a se preocuparem com aparência, e segue pela vida adulta, chegando com força na maturidade, quando o envelhecimento é tratado como falha pessoal.
Adolescentes: vivem o auge da comparação, dos distúrbios alimentares e da busca desesperada por pertencimento.
Mulheres adultas: carregam a culpa de não serem “boas o suficiente” em nenhum dos papéis — nem na aparência, nem no trabalho, nem nos relacionamentos.
Mulheres maduras: enfrentam o etarismo, a invisibilidade social e a pressão para parecerem jovens a qualquer custo.
O resultado não é apenas estético. É psicológico. É emocional. É subjetivo. Aumento dos quadros de ansiedade, depressão, transtornos alimentares, exaustão mental, dificuldade de se perceber com valor além do corpo ou da produtividade.
É possível romper?
Romper a baixo autoestima feminina é um processo. É individual, mas também coletivo e político. O feminismo, a psicoterapia e espaços de escuta são ferramentas potentes nesse caminho. Eles ajudam a desconstruir a ideia de que a mulher precisa ser perfeita, produtiva, jovem, magra e agradável o tempo todo.
Olhar para isso não é só autocuidado — é resistência. É entender que sua dor não é individual, não é fracasso pessoal. É sintoma de um sistema que lucra com sua dor.
Refletir é o primeiro passo
Se você se sente cansada, insuficiente, exausta dessa busca interminável por um ideal… saiba que não é você o problema. O problema é um sistema que te ensinou a se enxergar assim.
Na terapia, é possível reconstruir essa relação consigo mesma. É um espaço onde você pode se olhar além dos padrões, além das expectativas e além do que te fizeram acreditar que você precisa ser.
MARIANA MEJAN
Psicóloga Clínica Especialista em Mulheres
CRP: 06/92638
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